FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) - Manifestantes que realizaram bloqueio na rodovia SC-163, em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, cantaram o hino nacional fazendo um gesto que lembra a saudação nazista "sieg heil", que significa "salve a vitória", nesta quarta-feira (2).
O gesto usado nas décadas de 1930 e 1940 por seguidores de Adolf Hitler (1889-1945) e que passou a ser alvo de fortes críticas em redes sociais, já é objeto de investigação do Ministério Público Estadual de Santa Catarina.
O órgão informou que já trabalha para identificar as pessoas que fizeram a saudação nazista.
"Uma vez identificadas, será produzido um relatório e as informações encaminhadas para a 2ª Promotoria de Justiça da Comarca, que possui atribuição criminal, para responsabilização dos envolvidos", disse a coordenadora do Gaeco de São Miguel do Oeste, a promotora Marcela de Jesus Boldori Fernandes.
Símbolos e gestos nazistas são considerados crime de acordo com a Lei do Racismo (Lei 7.716/1988) com pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa. A apologia ao nazismo também é considerada crime em diversos outros países, incluindo a própria Alemanha e a Áustria, país natal de Hitler.
O caso também já está sendo acompanhado pelo Necrim (Núcleo de Enfrentamento a Crimes Raciais e de Intolerância).
Principal representante da comunidade judaica brasileira, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) também pediu que sejam investigadas as imagens de manifestantes fazendo um gesto semelhante à saudação nazista na cidade catarinense.
No último dia 20 de outubro, a Polícia Civil de Santa Catarina prendeu membros de uma célula nazista em São Miguel do Oeste, onde ocorreu o gesto durante a manifestação desta quarta-feira, e na cidade vizinha Maravilha, na operação "Gun Project".
Foram apreendidos livros, símbolos e bandeiras que fazem apologia ao regime de Hitler. Também foram realizadas prisões em Florianópolis e Joinville.
Uma semana depois, alunos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Florianópolis, também registraram suásticas e frases escritas contra judeus e mulheres nos banheiros da universidade.
Uma das figuras mais emblemáticas da região com ligação declarada ao nazismo é Altair Reinehr, pai da atual vice-governadora e deputada federal eleita por Santa Catarina, Daniela Reinehr (PL).
Altair Reinehr é professor aposentado e colaborou em livros da Editora Revisão, especializada em publicações com teor antissemita que negavam o holocausto e outros crimes da Alemanha nazista. Reinehr foi testemunha de defesa no processo que condenou Siegfried Ellwanger Castan (1928-2010), dono da editora, por crime de racismo no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2002.
MP apura saudação nazista em ato bolsonarista durante execução do Hino Nacional em Santa Catarina