Tema que está constantemente na lista das principais preocupações dos brasileiros, inclusive nas eleições de 2022, a segurança pública recebeu atenção especial do DataSenado no Panorama Político 2023. Uma série de questões foram feitas aos brasileiros na nova edição da pesquisa. Constatou-se que os cidadãos seguem majoritariamente contrários a facilitar o acesso a armas de fogo.
Assim que encerrado o segundo turno das eleições do ano passado, a equipe do Instituto DataSenado perguntou aos brasileiros: “Facilitar a posse de armas vai aumentar a segurança no Brasil?". Em resposta, 60% dos entrevistados discordaram de medidas nessa direção. Em 2021 o índice de discordância havia sido de 69%. Já o percentual de brasileiros que acreditavam que ampliar o acesso a armas poderia ajudar a diminuir a violência cresceu de 28% em 2021 para 37% 2022.
De acordo com o DataSenado, uma possível explicação para a mudança da série no último período pode estar relacionada ao contexto pós-eleitoral, já que 66%, dos que se posicionam politicamente à direita concordam com a afirmação. Por outro lado, 85% dos que se posicionam à esquerda são contrários, assim como 70% dos posicionados ao centro e 71% dos que não se enquadram nessas posições políticas. O contraste reforça o caráter controverso e a polarização política em torno do tema, aponta o coordenador da pesquisa, José Henrique Varanda.
— A maioria da população, historicamente, não acredita que a facilitação do posse de armas traz maior segurança, mas essa posição diminuiu. A gente nota um componente político quando olha as séries históricas e as associações com o posicionamento político autodeclarado — destacou o pesquisador.
Armas e violência doméstica
A maioria da população também avalia que “facilitar a posse de armas aumenta a violência doméstica". De acordo com o levantamento, 60% dos brasileiros concordam com a afirmação, enquanto que 38% discordam. Para 86% do grupo contrário a facilitar a posse de armas, a violência doméstica e familiar contra a mulher aumentou nos últimos 12 meses.
Uma novidade da última edição foi a participação dos homens de homens na pesquisa sobre violência doméstica. Os percentuais são diferentes, mas a constatação geral é parecida. Pouco mais de seis entre dez pessoas do sexo masculino (64%) concordam que a violência doméstica e familiar contra a mulher aumentou no último ano, enquanto que quase oito em cada dez mulheres (78%) têm essa percepção.
— Isso demonstra que não é uma percepção apenas de gênero, é uma percepção da sociedade — apontou Varanda.
Se armar a população não parece ser o caminho para a maior parte dos brasileiros, a pesquisa constatou que outro tema controverso voltou a ganhar o apoio da maioria da população após o período eleitoral: a pena de morte.
O Panorama Político revela que 55% dos brasileiros concordam com a afirmação de que “deveria existir pena de morte no Brasil”. Em 2021, 49% eram a favor. Já o nível de discordância está agora em 42%, contra 47% em 2021. Em 2019, 54% apoiavam a pena de morte e 41% desaprovavam a medida.
Em torno de ações associadas à temática da segurança pública, 85% dos brasileiros são a favor do monitoramento de ações policiais com câmeras em seus uniformes e apenas 13% são contra. Ainda nesta temática, 72% da população se mostra favorável à redução da maioridade penal e 24% se mostram contrários. Os demais não sabem ou não responderam.
— Há uma preocupação da população com o fato de que as ações policiais devem se dar dentro dos limites da lei, por isso, 85% dos brasileiros concordam com a ideia de monitoramento com câmeras nos uniformes dos policiais. O armamentismo não cumpre nenhum papel de aumentar a segurança no Brasil, e 60% dos brasileiros acham que a posse de armas não vai aumentar a segurança. Não concordamos com o que pensa a maioria sobre a pena de morte e a redução da maioridade penal. Há uma demonstração de que a população se divide em alguns temas — avaliou o senador Humberto Costa (PT-PE).
O senador Efraim Filho (União-PB) disse que os dados da pesquisa poderão embasar proposições no Senado.
— Vamos promover os avanços dentro da lei, de forma que contribuamos para um futuro mais justo e igual para todos — disse o parlamentar.
Realizada de 8 a 26 de novembro de 2022, a pesquisa ouviu, por telefone, 2.007 cidadãos de 16 anos de idade ou mais, em amostra representativa da população para avaliar a opinião dos brasileiros sobre uma série de temas.