02/08/2023 às 15h22min - Atualizada em 02/08/2023 às 15h22min

Pediatra do HGE alerta sobre cuidados para prevenir casos de meningococcemia

Doença causada pela bactéria neisseria meningitidis é mais frequente entre crianças com até 5 anos

A pequena Maria Cecília Barbosa precisou ser entubada e teve necrose nos membros inferiores devido à meningite meningocócica Carla Cleto e Thallyson Alves / Ascom Sesau

Neide Brandão e Thallysson Alves / Ascom Sesau

A pequena Maria Cecília de Oliveira Barbosa, de 1 ano e 7 meses, estava muito bem de saúde até que no último dia 31 de maio começou a vomitar. Era um quadro de meningococcemia, infecção causada pela bactéria neisseria meningitidis, conhecida como meningococo, que pode causar desde um quadro clínico mais brando até um quadro grave e fulminante. 

 

Mas o que fazer para evitar que seus filhos sejam afetados por este problema de saúde? O pediatra Roney Damacena, que atua no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, onde a paciente foi tratada, orienta sobre os cuidados que papais e mamães devem seguir para preservar o bem estar de seus filhos.

  

Isso porque, segundo ele, a meningite meningocócica está entre as doenças imunopreveníveis mais temidas, sendo mais grave quando atinge a corrente sanguínea, provocando meningococcemia, que é uma infecção generalizada. 

  

De acordo com Roney Damacena, aproximadamente 10% da população apresenta colonização bacteriana na nasofaringe, ou seja, são portadoras assintomáticas. “Raramente o meningococo consegue invadir a corrente sanguínea provocando a doença meningocócica, que pode se apresentar de diferentes formas. Em 70% dos casos, a infecção meningocócica manifesta-se como meningite, já os casos de meningococcemia são mais raros, mas, temos percebido um aumento dos casos nos hospitais”, salienta.


Roney Damacena diz que a meningite meningocócica evolui rápido, com o surgimento abrupto de sintomas como febre alta e repen.jpg

Roney Damacena diz que a meningite meningocócica evolui rápido, com o surgimento abrupto de sintomas como febre alta e repen.jpg


No caso de Maria Cecília, além de vômito, ela apresentou febre e surgiram manchas no corpo, conforme relatou a mãe, Beatriz Dayane Barbosa, de 21 anos, que é manicure. Ela afirma que medicou a criança na tentativa de acabar com a febre, mas, após uma noite em claro, ela levou a filha para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde o clínico geral detectou manchas na perna e na barriga e, após medicá-la, encaminhou-a ao HGE, onde já chegou entubada, devido a gravidade do problema.

  

“No HGE ela foi direto para a UTI. Fizeram acesso central em minha pequena, que ficou 24 horas isolada. A meningite foi confirmada já com o quadro de meningococcemia. Senti muito medo de perdê-la”, emocionou-se a mãe, ao fazer uma confissão. "Aas vacinas de minha filha estavam atrasadas, porque sustento meus três filhos sozinha e tenho que trabalhar todo dia". 

 

Felizmente, graças à assistência ágil e eficiente da equipe multidisciplinar, Maria Cecília foi desentubada no dia 12 de junho e, no dia 14, foi para uma enfermaria, mas apresentava muitos pontos de necrose e edema nos membros inferiores, o que é característico da doença. Após a remoção do tecido necrosado, finalmente recebeu alta médica no dia 8 de julho,, mas, uma vez por semana, retorna à unidade para avaliação das lesões.

 

Roney Damacena explica que a meningite meningocócica é uma infecção exclusiva das meninges e provoca alterações neurológicas e sistêmicas. Já a meningococcemia, que é causada pelo mesmo agente, é definida como uma infecção da corrente sanguínea, com manifestações sistêmicas que podem ser potencialmente graves, de rápida evolução e potencialmente fatais. “Após diagnóstico e uso de antibioticoterapia correta, a taxa de letalidade para a infecção por meningococo em geral é de 10%. Dos pacientes que sobrevivem, entre 10 e 20% apresentam sequelas graves. Já a meningococcemia pode ter uma letalidade de até 50%”, enfatiza.

 

Transmissão e Tratamento

  

As secreções respiratórias e a saliva são o meio de transmissão do meningococo, entretanto, é necessário o contato próximo ou demorado com o portador. “É nos ambientes com maior aglomeração de pessoas que o risco de transmissão aumenta, e esses ambientes contribuem para desencadear surtos”, especifica o pediatra do HGE, ao acrescentar que o tratamento é feito com antibióticos e outras medidas de preservação do equilíbrio do organismo, sempre em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) isolada.

  

Segundo ele, a evolução da doença é muito rápida, com o surgimento abrupto de sintomas como febre alta e repentina, intensa dor de cabeça, rigidez do pescoço, vômitos e, em alguns casos, sensibilidade à luz, conhecida como fotofobia, e confusão mental. “Nos vasos sanguíneos, a disseminação pode produzir manchas vermelhas na pele, que são as petéquias e equimoses, e até necroses que podem levar à amputação do membro acometido. Para se ter uma ideia da gravidade, entre os sobreviventes, cerca de 10% a 20% ficam com sequelas como surdez, cegueira, problemas neurológicos e membros amputados”, alerta Roney Damacena.

  

Vacinas Salvam

 

O especialista diz que pessoas não vacinadas de qualquer idade são vulneráveis, mas no Brasil a doença é mais frequente entre crianças com até 5 anos. “Cinco tipos ou sorogrupos de meningococo causam a maioria dos casos de meningite. São eles: A, B, C, W e Y. No Brasil, o mais frequente é o sorogrupo C, razão pela qual a vacina foi incluída em 2010 no calendário infantil do PNI [Programa Nacional de Imunizações”, enfatiza o pediatra do HGE.

 

A vacinação é a principal forma de prevenção da doença meningocócica, conforme alerta Roney Damacena. “As vacinas são seguras e eficazes. Em média, mais de 95% dos vacinados ficam protegidos, entretanto, nos casos das vacinas conjugadas, como a meningocócica C e ACWY, e para quem já teve a doença, a proteção não é para toda a vida. Ao longo do tempo a quantidade de anticorpos cai e o indivíduo deixa de estar protegido. Por isso, a importância das doses de reforço, conforme as recomendações da SBIm [Sociedade Brasileira de Imunizações] e SBP [Sociedade Brasileira de Pediatria]”, lembra o especialista.

 

A SBIm e a SBP recomendam, sempre que possível, o uso da vacina meningocócica conjugada ACWY. O esquema deve ser iniciado na rotina aos 3 meses de idade, com duas doses, com intervalo de dois meses, e reforços entre os 12 e 15 meses; aos 5 anos e aos 11 anos de idade. Quando há atraso no início do esquema, o número de doses e o intervalo entre elas podem variar, dependendo da vacina utilizada.

 

Além disso, Roney Damacena ressalta a importância da aplicação da vacina meningocócica B, igualmente recomendada para crianças a partir de 3 meses e para adolescentes. “O esquema varia de acordo com a idade de início da vacinação.  Ela pode ser aplicada no mesmo momento em que a vacina meningocócica ACWY. Crianças e adolescentes de qualquer idade que não tenham sido vacinados anteriormente também podem se proteger com as vacinas ACWY e B. Em adultos, a administração deve ser considerada somente em situações de risco epidemiológico, como surtos ou viagens para áreas onde a enfermidade é endêmica”, observa o especialista.

 

Convocação aos Pais

  

Secretário Gustavo Pontes de Miranda conclama os pais para que atualizem a Caderneta de Vacinação de seus filhos e os protej.jpg

Secretário Gustavo Pontes de Miranda conclama os pais para que atualizem a Caderneta de Vacinação de seus filhos e os protej.jpg


O secretário de Estado da Saúde, médico Gustavo Pontes de Miranda, conclama os pais para que atualizem a Caderneta de Vacinação de seus filhos. "Não há motivo para deixar de proteger nossas crianças, porque há vacina, cientificamente testada e com eficácia comprovada contra a meningococcemia, uma doença grave, que pode levar à morte e deixar sequelas, como a amputação de membros", enfatiza o gestor da saúde estadual, ao destacar que os imunizantes estão disponíveis nos postos de vacinação municipais.


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