Bruno Soriano/Ascom Pilar
Banhado pela lagoa Manguaba, Pilar é um município premiado não apenas com belezas naturais, mas também com muita cultura e tradição. Terra de Arthur Ramos, Pilar foi palco da última pena de morte no Brasil, quando o escravo Francisco, um negro, acabou enforcado em 1879. Também em razão de tamanha simbologia, a população pilarense volta a celebrar, ao longo de toda esta semana, a passagem do Dia da Consciência Negra, comemorado no próximo 20 de novembro.
E foi para fomentar, principalmente, o combate ao preconceito que a Secretaria de Assistência Social idealizou a campanha “Pilar do Preto”, cuja abertura aconteceu nessa terça-feira (16), no Centro Cultural Mestre Bida, com direito à atração musical, roda de capoeira, palestras e exposição de artesanato que representa a riqueza e diversidade da cultura afro-brasileira.
Um dos palestrantes convidados foi o secretário estadual de Defesa e Proteção das Minorias, professor e ativista Zezito de Araújo. Conselheiro da Fundação Cultural Palmares e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Zezito também é coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), além de um dos responsáveis pela identificação e certificação das comunidades quilombolas do estado.
A contribuição de especialistas, inclusive, tem se mostrado imprescindível na luta contra males como o racismo e a intolerância. Afinal, os números ainda escancaram uma realidade que aflige, sobremaneira, a população negra.
Em 2019, pesquisa intitulada “Desigualdades sociais por cor ou raça”, realizada pelo IBGE, constatou que pretos e pardos – que representam 56% da população brasileira – concentram os piores indicadores de renda e escolaridade, por exemplo. Já o Atlas da Violência de 2020 mostrou que a taxa de homicídios entre negros cresceu 11,5% em uma década, concluindo que para cada indivíduo não negro morto, 2,7 negros são assassinados no Brasil.
Prefeito do Pilar, Renato Filho, por sua vez, marcou presença à solenidade dessa terça-feira, parabenizou toda a equipe da secretaria e destacou a importância do respeito ao próximo.
“Saúdo, em especial, o cantor Black Will porque comungo do seu pensamento quando ele afirma que, com amor, resolve-se boa parte dos problemas do mundo. Portanto, esta semana serve não apenas para mostrar que a negritude não é algo inferior a absolutamente nada. Na verdade, sequer precisaríamos desta e de outras datas se as pessoas simplesmente se respeitassem, já que nenhuma forma de preconceito deveria existir. Todos deveriam se respeitar, independentemente de cor, gênero, crença ou condição social”, analisou o gestor.
Já a secretária de Assistência Social, Mônica Benvindo, reforçou o objetivo do evento. “O projeto Pilar do Preto surgiu no momento em que pensamos esta programação enquanto política de assistência. E já que lutamos diária e arduamente pela igualdade de direitos, não poderíamos deixar essa data passar em branco. Desde o começo, queríamos algo que impactasse positivamente, a começar pelo próprio tema do encontro, enaltecendo a importância do povo negro para o desenvolvimento do nosso país”, disse a secretária.
E a programação do Pilar do Preto tem sequência nesta quarta-feira (17), dia de visita de crianças e adolescentes dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAs) Cenaura Peixoto e João Pereira à Serra da Barriga – a terra do líder negro Zumbi, em União dos Palmares, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1986, em reconhecimento ao valor histórico da região do Quilombo dos Palmares.
Já na quinta-feira (18) será a vez de uma oficina de pintura a ser ministrada, no centro cultural do Pilar, pelo artista Alex Costa. Por fim, na sexta-feira (19), o encerramento da semana de conscientização acontecerá às 17h, no complexo religioso Dilma Canuto, palco do Festival de Cultura Negra.