A Praça Aloísio Branco, conhecida como Bomba da Marieta, no bairro do Poço, vai ganhar novo visual com as intervenções artísticas e paisagísticas que serão promovidas pela Prefeitura de Maceió em parceria com a Casa das Tintas.
O espaço conta um pouco da história da cidade e, por isso, foi escolhido pelo Município para ser mais um ponto revitalizado por meio da pintura artística e jardinagem, que deixarão o lugar mais agradável para moradores e usuários do transporte público que passam por lá todos os dias.
De acordo com o gerente da Zeladoria Municipal, Fábio Palmeira, as obras na praça já foram iniciadas. Todo o piso da calçada vai ser corrigido para receber a pintura artística e a lanchonete que funciona no local também será revitalizada para integrar a nova “paisagem”. Nas nove jardineiras existentes, serão feitas intervenções, inclusive no entorno da lanchonete, para valorizar e preservar a estrutura histórica do prédio.
Quem vai ficar responsável pela irrigação de todo o jardim são os proprietários da lanchonete, que vão receber uma mangueira da Superintendência de Desenvolvimento Sustentável (Sudes) para usar a água do poço artesiano existente no local.
“Vai ser uma pracinha com a pegada de inovação, que só se fortalece por toda Maceió. A revitalização vai abranger a arquitetura, as artes, o paisagismo. A estrutura da lanchonete hoje serve também como parada de ônibus, então vamos adaptá-la de forma personalizada e moderna, deixando um ambiente agradável e rústico”, explica Palmeira.
Toda a tinta usada no projeto será doada pela Casa das Tintas, que tem a sede de sua loja matriz no bairro do Poço. A empresa afirma que sempre se mantém próxima de ações de street art, com o objetivo de transformar espaços públicos através das cores, como reforça o diretor de marketing, Fabrício Oliveira.
“Somos apaixonados por projetos que transformam os ambientes públicos na cidade. A praça da Bomba da Marieta é um bem público importante e, para nós, ela tem um significado ainda mais especial, pois fica perto da nossa loja matriz. Diante disso, torna-se um processo natural colaborar com a revitalização do nosso entorno”, afirma.
História
O bairro do Poço, por si só, já tem sua importância histórica por ser a região onde se concentravam as primeiras lavouras da cidade, em virtude de ser irrigada por diversos riachos.
Mas a Praça Aloísio Branco, mais especificamente, narra o início da expansão urbana da Capital em direção à região norte com a oferta do serviço de abastecimento de combustíveis a partir da instalação das primeiras bombas de gasolina e diesel, com tanques enterrados, da cidade.
Tudo começa ainda no final do século 19, quando o governo decidiu abrir uma via a partir de Jaraguá em direção à Estrada do Norte, que levava a Paripueira, Barra de Santo Antônio, São Luís do Quitunde e seguia em direção a Recife. Era a Estrada Nova, atual Avenida Comendador Leão.
Quem conta essa história é o jornalista e pesquisador Edberto Ticianeli. Ele lembra que antes os produtos que chegavam a Maceió vindos de Recife tinham que passar pela Estrada do Poço, hoje denominada Rua Comendador Calaça. Era preciso fazer o retorno para Jaraguá pela “Boca de Maceió”, atual Praça dos Palmares, no Centro, e atravessar o Riacho Salgadinho pela ponte localizada na Rua do Imperador.
Já no século XX, quando a Estrada Nova foi denominada Avenida Comendador Leão, a sua confluência com a Estrada do Norte, atual Rua Comendador Calaça e Avenida Gustavo Paiva, fez surgir um largo que, em 1926, chegou a ser utilizado para uma das feiras livres da capital. Esse espaço permaneceu sem denominação até que a Câmara Municipal de Maceió aprovou a Lei nº 505, de 7 de junho 1956. “Nessa época, ainda era um largo sem urbanização”, afirma Edberto Ticianeli.
Em 1959, por meio de uma Parceria Público-Privada com a Prefeitura Municipal de Maceió, é que foi construída a Praça Aloísio Branco, hoje mais conhecida como Bomba da Marieta. A construção foi feita pelo empresário Clóvis Saldanha da Silva, como lembra o filho dele, Disney Pinto da Silva. Com um projeto elaborado pelo Município, foi instalada a praça e, no local onde atualmente fica o ponto de ônibus, foi construído um escritório e uma lanchonete. Existiam dois tanques de combustíveis, um de gasolina e outro de óleo diesel.
“Havia um sapotizeiro próximo ao riacho, onde as pessoas ficavam esperando os carros, ônibus, caminhões. Os carros que saíam para o Litoral Norte paravam na praça para abastecer. Tinha gasolina pelo lado de dentro e, do lado da igreja, ficava a bomba de óleo diesel. Era um contrato de 15 anos, mas, com medo de chegar um novo prefeito e perder o ponto, o empresário então começou a comprar o terreno em frente e o posto foi transferido para lá”, recorda Disney.
Origem do nome da Bomba da Marieta ainda não foi desvendada
Disney conta que a denominação da bomba partiu do fato de se vender combustível no local, e que o nome Marieta, veio de “Dona Marieta”, avó dos empresários Tito e Jubson Uchôa, que era proprietária de imóveis por toda a região. No entanto, pesquisas recentes feitas por Edberto Ticianeli em jornais, depoimentos e livros antigos sobre Maceió podem indicar outra origem para a “Bomba da Marieta”.
No ano de 1927, bem antes da construção da praça, o jornal Diário de Pernambuco já citava os locais onde eram realizadas feiras livres na capital alagoana e, dentre eles, estava a Bomba de Mangabeiras. Bomba, na época, era uma espécie de passagem de nível, em que eram instalados tubos de cerâmica para a passagem de águas, e era feito o aterro para a criação das vias.
“Maceió era cheia de riachinhos, por isso a necessidade das pontes e bombas. Ali no Largo Aloísio Branco, tinha uma bomba de passagem de água. Também havia uma no final da Avenida Dona Constança, onde existia um brejo, no bairro de Jatiúca, e era conhecida como Bomba de Dentro”, relata Ticianeli.
Quem foi Marieta?
A outra dúvida está na identidade de Marieta, que deu nome ao local. Segundo o pesquisador, essa denominação existe desde o final da década de 1940, antes da construção da praça e das bombas de combustíveis do empresário Clóvis Sandanha.
Existia uma Marieta, que era dona de uma mercearia no Largo, que já vendia combustíveis em tonéis de metal — retirados por uma bomba manual — e havia a Marieta e seu marido Agenor Fiel, que eram proprietários de terras na região. Ticianeli acredita que a maior probabilidade é de o nome vir da dona do empório, mas ainda busca informações para esclarecer essa dúvida histórica.
A narrativa ainda está sendo escrita, mas a revitalização da praça, antigo largo, vai ajudar a reviver a cidade que ainda era em grande parte rural. E, quem sabe, vai ajudar a encontrar a real origem de mais um patrimônio histórico da capital das Alagoas.