23/05/2024 às 11h38min - Atualizada em 23/05/2024 às 11h38min
MÃE BERNADETE E BINHO DO QUILOMBO LUTAVAM CONTRA EMPRESA DE FILHO DE EX-GOVERNADOR DA BAHIA ANTES DE SEREM MORTOS
Mãe Bernadete foi assassinada com 22 tiros em agosto, quase seis anos após seu filho também ser executado. Os dois lutavam contra a instalação de um aterro da empresa Naturalle, do filho de Paulo Souto.
Mãe Bernadete, de óculos e turbante do candomblé. Ialorixá e líder do quilombo Pitanga dos Palmares foi assassinada no dia 17 de agosto, na Bahia. Foto: Henrique Duarte
A CENSURA CAIU. Por determinação do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, no dia 25 de outubro de 2023, o Intercept voltou a publicar a reportagem sobre a morte de Mãe Bernadete. O texto sobre a liderança quilombola havia sido retirado do ar por determinação da justiça da Bahia.
CINCO ANOS, 10 MESES E 30 DIASseparam o assassinato de Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá e líder do quilombo Pitanga dos Palmares, da execução do seu filho, Flávio Gabriel Pacífico, mais conhecido como Binho do Quilombo – ambos foram mortos dentro do território onde viviam. Antes, haviam se engajado em uma série de lutas contra especulação imobiliária, grilagem de terra e, sobretudo, para impedir a instalação de um aterro de resíduos de construção civil próximo ao quilombo, localizado em Simões Filho, região metropolitana de Salvador.
Mãe Bernadete, 72 anos, estava em casa assistindo televisão com seus três netos. Era noite do dia 17 de agosto deste ano, uma quinta-feira. Dois homens chegaram em uma moto, trancaram os netos em um quarto e a executaram com 22 tiros, sendo 12 no rosto. Durante toda a ação, permaneceram de capacete para não serem identificados.
Na manhã do dia 19 de setembro de 2017, uma terça-feira, Binho do Quilombo, 36 anos, estava em seu carro saindo de casa quando foi abordado por homens armados. Eles dispararam 12 tiros contra ele e fugiram. O caso começou a ser investigado pela Polícia Civil da Bahia e, em 2020, foi transferido para a Polícia Federal.